(matéria Diario de Santa Maria)
Das conversas com o pai, Eduardo Marcuzzo herdou o interesse pela imigração italiana. Por décadas, cultivou lembranças colecionando objetos trazidos ou usados pelos pioneiros que chegaram à região de Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine, em 1878.
Recolhendo um utensílio aqui, uma ferramenta ou roupa ali, construiu um rico legado. São mais de 10 mil peças reunidas no Museu Italiano que leva seu nome e reabre neste sábado, depois de três anos fechado devido à insegurança do prédio.
Uma jornada italiana marca a data em que o endereço, situado em frente à Praça Antônio Vernier e próximo às simpáticas figuras que representam os fundadores do povoado, volta a receber visitantes.
– Este é um dia de vitória para Vale Vêneto, para toda a região de imigração italiana. É poder contar a nossa história e também fazer história. Pelos poucos recursos e limitações, a gente achava que nunca ia conseguir concluir – diz o engenheiro Luiz José Pivetta, construtor responsável pela ampla reforma do prédio e coordenador da Semana Cultural Italiana.
A obra, executada entre 2014 e 2016, foi gerida pelo Conselho Paroquial e reconstituiu a estrutura interna da construção, preservando os aspectos externos do prédio histórico de 1892. Segundo Pivetta, a restauração teve custo de R$ 385 mil e a reestruturação e remontagem do museu já consumiu, até agora, R$ 22,4 mil. A conta totaliza R$ 407,4 mil.
– Deixamos só as paredes e as janelas. Hoje há total segurança. Pisos, escadas… tudo foi refeito, e com dinheiro nosso, arrecadado na comunidade – reitera Tomaz Bortoluzzi, presidente da Associação Vêneta e Comunidade de Vale Vêneto (AVE), entidade a qual está vinculado o museu.
A porta de entrada – hoje modernizada, de vidro – dá acesso a um acervo histórico revigorado e redistribuído em ambientes tematizados. Jacinta Pivetta Vizzotto, arquivista com especialização em Gestão de Arquivos, mestre em Patrimônio Cultural e descendente dos pioneiros, é quem assina a expografia (a forma de expor) do Museu Italiano Eduardo Marcuzzo (Miem).
– Na entrada, reunimos os três valores que foram alicerces dos imigrantes: a fé, que eles trouxeram da Itália; o trabalho que enfrentaram no Brasil; e a gastronomia, que desenvolveram a partir do plantio – explica Jacinta, ao detalhar cada um dos 10 ambientes de visitação.
Em todos os espaços, os nomes dos imigrantes – a maioria com sobrenomes bem conhecidos em Santa Maria e região – estão presentes nas etiquetas que identificam as peças.
Uma das principais envolvidas na reorganização do local, Jacinta explica que o trabalho começou em 2011, quando as voluntárias Franciele Roveda Maffi e Daniele Chamis Venturini deram início à separação e higienização de fotografias, documentos e indumentárias. Foi aí, avalia, que foi percebida a necessidade de ampliar os cuidados com o acervo. O passo posterior foi recolher e limpar os objetos que foram realocados durante a reforma.
– São mais de dois anos de trabalho voluntário. É por amor e dedicação – define Jacinta, que se alegra com o impacto que a reabertura do museu provocará na comunidade, possibilitando que boas memórias sejam revividas.
Foi assim a reação da moradora local Deolides Marcuzzo, 73 anos e filha de Rafael Marcuzzo, ao ver uma lousa no balcão de itens educacionais.
– Meu pai tinha. Eu brincava de escrever com isso. Apagava com a mão e escrevia de novo – disse, rindo.
– Eu usei no primeiro ano. Só fazia o ABC – completou Noeri Paulo Erthal, 68 anos, descendente de alemães, mas casado com Clairis Santina Pozzebon Erthal, natural de Vale Vêneto.
Na quinta-feira passada, era dele a responsabilidade de instalar fechaduras e pendurar quadros, finalizando ajustes para a reapresentação do Miem ao público.
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